Os sincronismos acontecem e não devem ser ignorados. No mesmo dia que publicamos o texto mais recente neste site, o Ilo do Portugal Integral decide também publicar uma retrospectiva do seu trabalho naquele blog. Ambos os textos tratam, de certa forma, do mesmo assunto: o nosso texto é uma retrospectiva sobre a forma como o bicho afectou a nossa mundividência, enquanto que o Ilo reflecte sobre como o seu pensamento foi, ao longo dos anos, evoluindo no sentido de atingir o Princípio.
O Princípio não é algo fácil de atingir, especialmente na modernidade. Estando nós a viver o tempo da inversão, a corrupção do pensamento é o pão nosso de cada dia; isto é fácil de perceber se reflectirmos sobre a nossa relação com a Verdade. Se não fosse suficiente ser aceite a perspectiva de que não existe a Verdade, apenas verdades contingentes e contextuais, essas mesmas verdades são cada vez mais irrelevantes para a nossa vida. Vivemos num mundo onde a acumulação de informação parece ser o objectivo último de maioria da actividade que desenvolvemos; coleccionamos dados, e desenvolvemos análises sobre esses dados com base de regras de inferência estatística. No entanto, muito raramente reflectimos sobre essa actividade, as regras que usamos, ou os princípios subjacentes à própria inferência. Só isto explica que cada vez tenhamos mais informação mas cada vez menos entendimento sobre o mundo.
Esta actividade de acumulação de informação pode ser equiparada à construção de uma torre. Vamos adicionando mais e mais andares, uns em cima dos outros, para chegar mais alto. O objectivo último não é, à primeira vista, claro; não é fácil aceitar que acumulação em si mesma seja o que nos move. Terá de haver subjacente uma crença (que raramente é tornada explícita) de que a descoberta de nova informação é um Bem em si mesmo, algo que deve ser feito independentemente de tudo o resto - e isto desde logo contrasta e entra em colisão com a crença de que não há Verdade. Percebemos assim que as fundações desta torre são bastante fracas, e todo o projecto se encontra em risco de ruir.
A equiparação entre estas empreitadas é ainda mais iluminadora num outro contexto. O Mito da Torre de Babel poderá dar-nos algumas pistas sobre o que realmente nos está a acontecer. Lendo o Génesis, vemos a tentativa dos filhos do Homem de construir uma torre que iria chegar aos Céus. Esta tentativa de ascender a um plano superior sem a ajuda ou a devida veneração a Deus é em tudo semelhante à moderna tentativa de construir conhecimento e atingir a sua totalidade de uma forma completamente desligada do Princípio. Sabemos que o Princípio é a Palavra (Logos), e o entendimento dessa Palavra é o que nos permite aceder a tudo o resto. Desviarmo-nos disso é garantir que a nossa torre vai ruir.
No Mito da Torre de Babel, o resultado é sobejamente conhecido: o Homem, unido por uma só língua, acabou divido e a falar uma miríade quase infindável de diferentes línguas. Tem sido assim desde então, e o resultado que vemos e prevemos da Babel moderna não é muito diferente; mesmo que assente na matemática e no inglês enquanto línguas-francas, a separação entre as diferentes disciplinas do conhecimento leva a que essas áreas sejam praticamente estanques entre si, sem qualquer vaso comunicante ou princípio que as informe globalmente. E se nada temos contra a matemática ou inglês, parece óbvio que a forma como são usados para dar à volta às limitações que vêm da Babel antiga não são suficientes. Diz-nos a intuição, e diz-nos a prática.
Então, qual é a solução? Para quem quiser ouvir, a solução é a Palavra. Tal é nos dito claramente no Evangelho de João: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (João, 1:3) E acrescentamos nós, que tudo o que se poderá fazer, também terá de ser feito com Ele, pois tal é a definição do Princípio. E entender a Palavra é o primeiro passo para que tudo o resto bata certo. Confúcio, um dos maiores sábios pré-Cristo, diz-nos isso claramente:
Se a linguagem não é correcta, então o que é dito não é o que se quer dizer; se o que é dito não é o que se quer dizer, então o que deve ser feito permanece desfeito; se permanecer desfeito, a moral e a arte se deteriorarão; se a justiça se extraviar, as pessoas ficarão em confusão impotente. Portanto, não deve haver arbitrariedade no que é dito.